Saiba como funcionava o clube de empreiteiras na Petrobras
As empresas suspeitas de participação no esquema de desvio de
recursos de obras da Petrobras criaram um clube, articulado com a
diretoria da estatal, para organizar quem participaria e quem venceria
as licitações. Mas como funcionava isso?
Ao menos sete empresas faziam parte do chamado “clube”, criado a
partir do processo de cartelização das obras da Petrobras, que tomou
força entre 2004 e 2006, segundo consta nos depoimentos coletados no
decorrer das investigações. Em comum, as empresas tinham o porte
financeiro necessário para executar obras bilionárias.
“Na realidade o que acontecia dentro da Petrobras, principalmente
mais a partir de 2006 pra frente, é um processo de cartelização (…) eu
não tinha esse conhecimento quando eu entrei, em 2004, ficou claro pra
mim dessa, entre aspas, ‘acordo prévio’, entre as companhias em relação
às obras. Ou seja, existia, claramente, isto me foi dito por algumas
empresas, pelos Presidentes das companhias, de forma muito clara, que
havia uma escolha de obras, dentro da Petrobras e fora da Petrobras.
Então, por exemplo, empre…, Usina Hidrelétrica de tal lugar, neste
momento qual é a empresa que tá mais disponível a fazer?”, disse Paulo
Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da estatal em seu depoimento.
O entendimento era de que as empresas que integravam o grupo tinham
que fazer os pagamentos de propina para as diretorias da Petrobras. O
clube seria responsável por decidir quais empresas deveriam ser
convidadas para as licitações da estatal, sendo que a lista era entregue
para Paulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque (ex-diretor de
Engenharia e Serviços), apesar de eles não decidirem qual seria a
escolhida.
Quem fazia o “meio de campo” entre as diretorias da Petrobras e o
clube, de acordo com as investigações, era o presidente da UTC Ricardo
Ribeiro Pessoa. Ele é apontado como o coordenador do cartel e
responsável pelo pagamento de propinas a agentes públicos.
“(Ricardo Pessoa) tinha papel de destaque também como coordenador do
cartel de empreiteiras, sendo responsável inclusive pelo pagamento de
propinas a agentes públicos”, diz o parecer do Ministério Público
Federal que pediu a prisão preventiva do empresário.
“Era ele quem convocava os representantes das empresas para as
reuniões, entregava as listas para Renato Duque e estabelecia o contato
direto com ele; que Ricardo Pessoa era ‘o meio de campo’, ‘o
intermediário’ com Duque”, disse à polícia Augusto Ribeiro Mendonça
Neto, ligado a empresa Toyo-Setal, após acordo de delação premiada.
Mas apesar de supostamente coordenar o clube, a UTC de Pessoa também
participava de licitações. Em oito anos, as empresas do grupo firmaram
contratos de mais de R$ 14 bilhões com a Petrobrás, sendo que atualmente
estão vigentes negócios que somam mais de R$ 7 bilhões.
As investigações mostram Pessoa como alguém precavido. Tanto que nas
vezes em que visitou o escritório do doleiro Alberto Youssef (um dos
responsáveis pela distribuição do dinheiro para agentes polítivcos) ele
se recusou a tirar foto na recepção ao se identificar.
Transporte do dinheiro
O doleiro Alberto Youssef era uma dos responsáveis pela distribuição
do dinheiro. Ele recebia os recursos por meio de empresas de fachada e
depois o distribuía entre os agentes políticos. Para isso ele contava
com o apoio de subordinados que viajavam pelo País com maletas e sacolas
recheadas de Reais, Dólares e Euros.
As investigações apontam ao menos três pessoas como as responsáveis
por esse serviço: Adarico Negromonte (irmão do ex-ministro das Cidades e
o único que ainda não se entregou à Justiça) o policial federal (agora
afastado) Jayme Alves de Oliveira, conhecido como Careca, e Rafael
Angulo Lopes.
A contabilidade apreendida com Alberto Youssef apontava que entre
2011 e 2012, Jayme teria transportado R$ 13 milhões, US$ 991 mil e 375
mil euros. “Ele atuava por delongado período de tempo, no transporte em
espécie de grandes quantidades de dinheiro de procedência ilícita, para o
que se utilizava das facilidades de seu cargo de agente de polícia
federal”, diz trecho do parecer do MPF.
Nos escritórios Youssef Adarico e Rafael eram vistos carregando
sacolas e malas com valores de até R$ 700 mil segundo consta em um dos
depoimentos.
A UTC informou que “desconhece a existência de um ‘clube de empresas’
e repudia afirmações que a relacionam um suposto cartel. Ao longo de 40
anos a UTC conquistou contratos sempre seguindo procedimentos
legítimos”.
Terra
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